Poesia Alentejana IV
À Procura d'um caracoli
Tava eu tirando moncos
lá da cana do nariz
enquanto fazia uma mija
assim tipo chafariz.
Tinha a bexiga tã chêia
que fiquê lá uma hora
quando me assomê em volta
tinha ido tudo embora.
Sacudi o coiso e tal
enquanto coçava a bilha
de tal manêra atascado
que o entalê na braguilha.
Tirê as botas do lodo
que fizera na mijada
sacudi tamém as calças
sempre com ela entalada.
Pedi ajuda à Ti micas
que cerca dali morava
mas depilou-me os tomates
ca força com que a puxava.
Ensanguentado na pila
fui aos tombos pelo monti
vomitando quasi as tripas
nã sêi se queres que te conti.
Como comera dôs pães de quilo e um garrafão
p'rajudar a empurrare
na admira que tivesse
três horas a vomitare.
Detê-me na palha fresca
para ver se descansava
enterrê-me logo em bosta
de uma vaca que passava.
E foi assim que essa tarde
conheci um caracoli
os dois deitados na palha
c'os cornos a secare ao soli.